quinta-feira, 5 de julho de 2007

A primeira história do Planetary

Quem poderia imaginar que uma série como Planetary poderia estar dentro de gibis tão ruins?


PLANETARY PREVIEW
Título Original: Nuclear Spring
Título no Brasil: Origem Nuclear
Publicação original: Gen 13# 33 e C-23 # 6 (setembro de 1998).
Publicação no Brasil: Planetary: Mundo Estranho (Devir Livraria – Abril de 2005).

A primeira história do Planetary foi um preview de 08 páginas, publicado em anexo nas revistas da Image Gen-13 (número 33) e C-23 (número 06). Numa pequena história auto-contida, Warren Ellis e John Cassaday já deixavam claro a proposta da série: analisar e homenagear 100 anos de cultura pop, principalmente as histórias em quadrinhos.

A trama começa com um general indo para seus aposentos numa base militar secreta, quando dá de cara com três invasores, que se apresentam como membros do Planetary: Jakita Wagner, Elijah Snow e o Baterista. Jakita põe a nocaute facilmente um dos seguranças do General, já demonstrando que além de muito veloz, também tem superforça. Não fica claro se Elijah tem algum poder especial, e Jakita parece estar no comando da operação. O Baterista conversa com as câmeras de segurança e com a TV do general, e Jakita ironiza o bom relacionamento dele com as máquinas insinuando que ele está se controlando para não transar com a TV.
O primeiro vislumbre que os leitores tiveram da equipe do Planetary.


Sem outra opção, o General é convencido a falar tudo que sabe sobre David Payne, alguém cuja existência deveria ser secreta, uma vez que o exército apagou todas as informações sobre ele. O Dr. Payne era um eminente cientista norte-americano, na época da Guerra Fria. Por dez anos ele trabalhou com o exército desenvolvendo o que chamava de “Teoria Integral de Desing”. A idéia geral era construir um computador que também fosse uma bomba: um cérebro eletrônico que se conectasse ao maquinário do universo, e mover engrenagens e alavancas, controlando a forma como as coisas funcionam. Dessa forma, podiam-se fazer coisas sumirem, por exemplo: pessoas, cidades e países.

Para controlar o experimento numa área limitada, Payne criou o que chamou “Caixa Quântica”, ou seja, os efeitos da explosão “inteligente” iriam acontecer numa determinada área, onde a realidade seria “rotacionada” e o computador poderia manipular as leis da física.

No entanto, no dia do teste do protótipo, em 1962, a esposa do General – com quem Payne supostamente teria um caso – foi encontrá-lo, sem saber da experiência (que era secreta). Para salvá-la, Payne ignorou o perigo, e se dirigiu a ela para tentar tirá-la de dentro da “caixa quântica”. Ele conseguiu empurrá-la para fora, mas foi atingido pela explosão.

Ninguém sabe ao certo o que realmente aconteceu, ou como Payne sobreviveu, mas a teoria mais aceita é que Payne tinha todas as equações e fórmulas da “teoria integral de desing” na sua cabeça. É possível que para salvar a si mesmo, Payne resolveu as equações na sua cabeça, para manipular seu corpo e se tornar alguma coisa que poderia sobreviver à bomba.

A criatura resultante era enorme, poderosa e monstruosa. O exército levou 24 dias para contê-lo. No fim, ele foi aprisionado num silo nuclear com oito quilômetros de profundidade, deixado sem comida e sem água. Levou 20 anos para morrer.

Como as principais fórmulas da teoria integral de desing estavam na cabeça de Payne, o projeto se foi com ele, e nunca mais foi tentado experiência similar.

Referências: O incrível Hulk! As quatro faces do Dr. Banner:Ele mesmo; Hulk Selvagem e Burro; Hulk Super-Herói; e Hulk Cinza e Sacana.

Está claro que a história faz alusão ao Hulk, o alter ego monstruoso de um físico nuclear, de pele esverdeada e grande força física. O personagem é um dos mais conhecidos do mundo, tendo sido criado para uma revista em quadrinhos por Stan Lee, com desenhos de Jack Kirby, e publicado pela primeira vez em maio de 1962. A revista “The Incredible Hulk”, no entanto, não fez o sucesso esperado, durando apenas seis números.

Isso porque o conceito da série do Hulk era bastante inovador para a época: o Hulk não era um “super-herói”, mas uma criatura incompreendida e de inteligência limitada, que passava a maior parte do tempo fugindo e combatendo o exército norte-americano, deixando um rastro de destruição por onde passava. Seu alter-ego é o Doutor Robert Bruce Banner, que foi exposto acidentalmente a radiação da própria bomba que criara, e assim, inicialmente à noite – e depois em períodos de grande tensão – ele se tornava essa criatura esmeralda, que de certa forma manifestava outro aspecto da sua personalidade. O Hulk seria toda a raiva, rancor e dor reprimidas por Bruce Banner, que ao longo dos anos aprendera a represar as emoções e se tornar um frio e insensível cientista.

A primeira transformação de Bruce Banner: cortesia de Jack Kirby.


Apesar do cancelamento da revista, Stan Lee não desistiu da sua criatura – que, aliás, era inspirada numa fusão dos livros “O Médico E O Monstro” de Roberto Louis Stevenson, e Frankenstein, de Mary Shelley – e o personagem se tornou um coadjuvante importante nas primeiras histórias da revista Avengers (no Brasil, Vingadores). Com um retorno melhor do público, o personagem passou a ter suas histórias publicadas na revista “Tales to Astonish”, até se tornar o principal astro dela. De tal forma que no número 100 da publicação, ela passou a se chamar “The Incredible Hulk”, em 1969. De lá pra cá, já foi zerada algumas vezes, mas podemos dizer que o Hulk nunca deixou de ter uma revista mensal nos EUA.

Mas o grande mérito pela popularidade do personagem não são os gibis, e sim a encarnação do Hulk na televisão. Primeiro, sobre a forma de desenho animado, no fim dos anos 60. Com técnicas de animação muito rudimentares e pobres, foi devido a essa série de desenhos que o personagem foi conhecido no Brasil, e suas histórias em quadrinhos foram enfim publicadas por aqui.

No entanto, foi no final dos anos 70 que foi dado o passo decisivo para a fixação do Hulk no imaginário popular: a criação de uma série de TV com atores de carne e osso. Produzida por Keneth Johnson (V-A Batalha Final), a série tinha no papel principal Bill Bixby, que interpretava o cientista DAVID Banner. Isso mesmo, o nome do protagonista foi alterado, segundo Stan Lee confidenciou anos mais tarde, porque os produtores achavam que Bruce não era “másculo” o bastante. Já o monstro verde era interpretado pelo atleta fisiculturista Lou Ferigno.

Bill Bixby se transformando em Lou Ferigno
O enredo da série era a vida de David Banner como eterno fugitivo da lei, acusado pela morte do seu assistente, e perseguido insistentemente pelo repórter Jack McGee, que havia visto o Hulk saído do local do acidente com radiação gama, embora não soubesse que ele e Banner eram a mesma pessoa. Em cada episódio, Banner chegava numa cidade diferente, adotava uma outra identidade, e encontrava alguém com problemas, tentando ajudar como podia, até que o Hulk acabava aparecendo, resolvendo as coisas na porrada, mas também acabando com o disfarce de Banner, que era obrigado a fugir de novo.

Apesar de muita crítica negativa da imprensa da época, que não levava a sério um show de Tv baseado numa revista em quadrinhos, “The Incredible Hulk” foi um sucesso na televisão norte-americana, durante quatro temporadas, com 80 episódios gravados, até que a forma se esgotou e o seriado foi cancelado.

No entanto, antes disso, a popularidade do seriado foi capaz de impulsionar uma nova série de desenhos animados em 1982, assim como catapultar toda uma linha de brinquedos que ganharam o mundo. Uma nova série de desenhos foi produzida nos anos 90 (sem o mesmo sucesso), e o personagem ganhou uma versão cinematográfica em 2003, pelas mãos do premiado diretor Ang Lee (O Tigre e o Dragão).
A polêmica versão do personagem em carne e pixels



Análise e Comentários:

Essa pequena história do Planetary é um cartão de visitas e um convite para os leitores conhecerem a série, que passaria a ser publicada somente em 1999. No entanto, foi suficiente para causar expectativa da critica especializada, tanto pelo roteiro eficiente de Warren Ellis, que apenas em oito páginas apresentou mais conceitos e uma história interessante do que muita revista de 32 páginas da época; quanto pelos desenhos de John Cassaday, que até então tinha apenas desenhado o desconhecido Union Jack, para uma mini-série para a Marvel Comics.

A homenagem ao Hulk é clara, até mesmo a começar pelo nome: David Payne soa quase igual à David Banner, como o personagem era conhecido na série de TV. Entre as mudanças da história do Planetary pra história original, podemos citar que ao invés do cientista se envolver romanticamente com a filha do general, ele se envolve com a esposa do mesmo, que teria mais ou menos sua idade; E não é Rick Jones quem ele salva da explosão da bomba, mas sim sua amante.


Em alguns aspectos, a origem proposta por Ellis para a criatura faz mais sentido que a do Hulk, afinal, sabemos que a radiação de uma bomba atômica não causa nenhum tipo de mutação benéfica. A “teoria da descrição” é uma teoria científica ainda muito recente, mas que realmente abre um universo de possibilidades no campo da física, principalmente na manipulação da própria estrutura da matéria, como sugerido pelo autor.


Outra coisa que vale a pena notar, é que Warren Ellis aproveita para dar uma alfinetada política, conhecido por ser o escritor ácido e irônico que geralmente é: afinal, David Payne fabrica bombas, assim como Robert Bruce Banner. Como podemos considerar esse tipo de pessoas como heróis? Afinal, bombas são feitas para matar pessoas e destruir coisas, não com outro objetivo. No entanto, Payne age como um herói romântico, assim como Bruce Banner, arriscar seu próprio bem estar em beneficio do próximo. Não seria de supor que na mentalidade da Guerra Fria, para os norte-americanos, fabricantes de bombas fossem seus heróis e devessem ser vistos como tal?

Também não deixa de ser irônico que Banner seja vítima da própria bomba que criou, assim como David Payne. Com efeito, as primeiras histórias do Hulk são justamente contra espiões comunistas do leste europeu. É certo dizer que nenhum personagem tem a origem tão associada à Guerra Fria quanto o Hulk, por isso a necessidade nas adaptações para a televisão e cinema de mudar a origem, primeiro para modernizar o personagem, já que não se permitem mais testes nucleares como antigamente; segundo, o próprio caráter do personagem seria questionado pelo público atual, uma vez que a grande maioria jamais iria considerar um sujeito que projeta bombas que possam matar o maior numero de pessoas possíveis, como herói.

Um comentário:

Anônimo disse...

Salve!

Aposto que essa joça (com todo o respeito :D) Ficará muito boa, ou melhor, já é!

Já tá nos favoritos!

ABS!