segunda-feira, 9 de julho de 2007

Planetary # 1: Pulp Fiction!


Planetary # 01
Título Original: All Over the world
Título no Brasil: Ao redor do mundo
Publicação Original: Abril de 1999 (WildStorm/DC).
Publicação no Brasil: Authority/Planetary nº 01 (Pandora Books – 2001); Planetary: Ao redor do mundo (Pandora Books – 2003); Planetary: Mundo Estranho (Devir Livraria – Abril de 2005).

Esta história começa num lugar não muito especificado, provavelmente algum deserto no oeste dos Estados Unidos, onde um homem chamado Elijah Snow é abordado por uma certa mulher que se apresenta como Jakita Wagner, representante de uma organização chamada “Planetary”. Jakita faz a proposta para Snow trabalhar para a organização, em troca de um milhão de dólares anuais e a promessa de ocultar sua existência do resto do mundo, o que aparentemente é um dos desejos de Snow, já que ele está vivendo como eremita há pelo menos dez anos, conforme mostra sua aparência. No entanto, conforme Jakita informa, ele tem pelo menos 100 anos de idade, razão esta que Snow é uma pessoa incomum e deseje viver anônimo.

No Quartel-General do Planetary em Nova York, Elijah Snow pergunta para Jakita quem é que paga todas as despesas, e ela revela que não sabe a identidade do dono do Planetary, só sabe que ele é “mais rico do que Deus” e que deseja coletar informações acerca da história secreta da Terra. Por isso ele é chamado simplesmente de “o Quarto Homem do Planetary”, uma vez que o grupo sempre tem três membros.

Snow chega a perguntar quem era o terceiro homem antes dele e o que aconteceu com ele, mas Jakita desconversa. Elijah então é apresentado então ao outro membro da equipe, o Baterista, que tem o poder de se comunicar com as máquinas, e segundo Jakita, é louco.

O Baterista informa que conseguiu informações acerca de uma caverna secreta, construída artificalmente, nas Montanhas Adirondacks. Jakita fica empolgada com a informação, uma vez que ela e o Baterista descobriram em documentos apreendidos dos russos que as Adirondacks foram apontadas como o ultimo paradeiro conhecido do Dr. Axel Brass, um renomado cientista e aventureiro da década de 30.

No vôo até lá, Jakita atualiza Elijah Snow sobre as informações a respeito de Brass: Ele nasceu em 1º de janeiro de 1900, a mesma data que vários outros indivíduos incomuns, e desapareceu em 1º de janeiro de 1945. Seus diários pessoais eram mantidos por um amigo de Brass, que morreu em Berlim, em 1945, e então foram saqueados por oficiais russos e levados para a KGB, que os esconderam numa caixa-forte. O Planetary recuperou a caixa-forte quatro anos atrás, e assim ficaram sabendo da existência de Brass: Há evidencias de que ele não só retardara o próprio envelhecimento, como não precisava mais de comida.

O Baterista descobriu a entrada das cavernas, protegidas por uma ilusão holográfica, e Elijah e Jakita adentram o local, indo parar inicialmente no que parece uma sala de troféus, incluindo esqueletos de estranhas criaturas. Mas é no salão principal que está a descoberta mais assombrosa: o próprio Axel Brass vivo e mutilado, aponta suas armas e diz que é melhor eles serem os mocinhos.

Jakita informa que as armas são inúteis contra ela, e Brass se convence que é melhor contar sua história: Ele eliminou sua necessidade por comida e sono em 1942, parou de envelhecer em 1943, e descobriu como fechar feridas com o poder da mente em 1944.

Da esquerda para direita: Hark, Jimmy, o Aviador, Axel Brass, Edison, lorde inglês e encapuzado mascarado.


No início de 1945, dispostos a pôr um fim a segunda guerra mundial, uma sociedade muito secreta e especial se encontrou no seu esconderijo nas Adirondacks. Eles o haviam construído dez anos antes, era o local onde descansavam, planejavam, discutiam e admiravam seus troféus. No resto do planeta existiam monstros e mistérios, coisas que o resto do mundo não queria saber que existiam. Eles tomaram a responsabilidade de lidar com isso.

Somos apresentado à “Edison”, cujo jaleco o aponta como um cientista; um certo Jimmy, que tem ar de agente secreto; um aviador com sua típica indumentária, incluindo óculos e capacetes; um lorde inglês, recém regresso da África, que usa uma pele de tigre como cachecol; um sombrio encapuzado, com uma aterradora máscara metálica, vindo de Chicago; e um oriental de cabelos compridos e grandes unhas, chamado “Hark”.

Axel e Edison informam que criaram um modelo avançado de computador, que não se limita apenas a fazer operações binárias baseado em dois estados de “ligado” e “desligado”. Como o mundo não é assim, apenas preto e branco, mas feito de situações que transitam por todos os pontos de “ligado” e “desligado”, ocupando todas as posições possíveis de uma só vez, elaboraram uma mente mecânica que pudesse pensar da mesma forma.

Um computador que pudesse pensar uma série de alternativas possíveis, nenhuma delas real, mas todas contribuindo para a realidade vigente; Essa máquina assim seria capaz de efetuar operações simultaneamente, não de maneira serial como na tecnologia binária. Esse cérebro quântico efetuaria cada cálculo através dos universos, cada resposta possível sendo processada num mundo diferente, cada universo alternativo desaparecendo, um a um, até que a resposta se tornasse real.

Hark então liga o aparelho, que fez aparecer na sala um efeito luminescente parecido com uma emaranhado de vidros se partindo em várias direções, e se quebrando, ao mesmo tempo se colorindo conforme a luz reincidia sobre eles; Hark chamou isso de “a forma da realidade”: um floco de neve teórico existindo em 196.833 espaços dimensionais. Cada rotação do floco de neve descreve um universo inteiramente novo e cada rotação cria uma nova Terra. “Este é o Multiverso”.

Edison explicou que o cérebro iria gerar aquele floco de neve, uma vasta extensão de universos, e permitir que cada um seja desligado e desapareça enquanto se aproxima da resposta correta. Portanto, ele processava e executava ações simultaneamente. Assim, se poderia codificar o mundo numa vasta cadeia de equações e receber de volta uma versão corrigida do Planeta Terra em segundos.

O grupo de Brass não havia se envolvido na Segunda Guerra Mundial porque não podiam prever as conseqüências de suas ações. Para eles, era muito complexo alterar o rumo da civilização, eram variáveis demais, seria impossível calcular todas as possibilidades que as ações de um grupo de pessoas tão especiais poderia provocar.

Por isso criaram o cérebro eletrônico: ele poderia fornecer uma equação capaz de terminar a guerra o mais rápido possível, com um mínimo de mortes, gerando uma sociedade mundial melhor. Havia também a possibilidade de que a equação resolvida pudesse reescrever toda a realidade, tornando sua resposta matemática uma verdade objetiva.

Com o consenso do grupo, eles colocaram a máquina de Brass e Edison para funcionar, com a equação matemática desenvolvida por Hark. O floco de neve aumentou, universos surgiram, seus ciclos de vida medidos em segundos... Mas o tempo se movia de forma diferente para aqueles universos recém-nascidos, para estes bilhões de anos se passavam.

Foi então que num dos fragmentos que mais se aproximavam da resposta correta, um grupo de pessoas cujo esconderijo estavam nas mesmas montanhas Adirondacks de outra realidade olhou para o outro lado, e percebeu que seu mundo estava a beira da destruição... E então atacaram.

Naquela noite, a sociedade secreta de Axel Brass salvou o mundo, dando suas próprias vidas para evitar que aqueles superseres de outro universo destruição à Terra para dar passagem para o universo deles. Apenas Brass sobreviveu, com as pernas esmagadas. Ele não podia abandonar a máquina, nem desligá-la, por isso teve que ficar ali todos aqueles anos esperando caso mais alguma coisa atravessasse o portal aberto pelo “floco de neve”.

Os membros do Planetary desligam a máquina e resgatam Brass. Elijah pergunta para Jakita se o Planetary conseguiu o queria, e ela responde que acabaram de obter um computador quântico criado há cinqüenta anos atrás por uma sociedade secreta de super-humanos que ninguém sabia que existiam. “Nos saímos bem”.



ANÁLISE & COMENTÁRIOS

A primeira edição de Planetary já começa com alguns mistérios: Se Elijah Snow tem quase 100 anos de idade, como isso é possível? Por que ele passou os dez últimos anos como um eremita no deserto? Quem é o Quarto Homem? Qual o superpoder de Elijah (além de obviamente envelhecer muito lentamente)?.

Somos apresentados aos personagens principais e temos um primeiro vislumbre de suas personalidades: Elijah é um sujeito meio amargo, com algum dom para a ironia, e aparenta impaciência; Jakita Wagner tem muita confiança naquilo que faz e não tem medo de dar ordens; Já o Baterista é um cara totalmente despojado com a vida e alheio no seu próprio “mundinho”.

Mas a grande atração desta edição é a homenagem à pulp fiction: a literatura popular norte-americana dos anos 20 e 30, como ficou conhecida. As pulp magazines eram chamadas assim porque seu papel era feito de polpa de arvore, ou seja, um tipo de papel muito vagabundo que amarelava e se estragava facilmente. Mas era justamente por ser barato, que essas revistas podiam ser vendidas por 5 centavos de dólar e foram uma verdadeira febre, principalmente durante a grande depressão americana.

Afinal, em meio a pobreza geral, ter uma forma de entretenimento barata era fundamental pra quem encontrava na fantasia uma forma de escapar por alguns momentos da dura realidade. Nas páginas dessas revistas apareceram personagens antológicos, que foram o carro chefe de dezenas de publicações, e encadernados em livros de grande tiragem mais tarde. São alguns destes principais personagens que foram homenageados nas páginas deste número de Planetary.

Por uma questão de direitos autorais, Warren Ellis não podia chamá-los pelo nome, nem John Cassaday podia desenhá-los exatamente como são. Por isso inventaram “substitutos”, que embora tenham nomes diferentes e aspectos ligeiramente modificados, ainda assim deixam claro se tratarem de grandes personagens do imaginário popular. Pra quem não os conhece, ou não consegue identificar a todos, eis aqui a verdadeira identidade de cada um:

AXEL BRASS = DOC SAVAGE

O aventureiro de pele dourada foi um dos personagens mais populares dos pulps dos anos 30: o visual de Brass é muito parecido com “o homem de bronze”, além de habilidades similares, como perfeição física e envelhecimento retardado.

LORDE INGLES = TARZAN O lorde inglês que foi a África para visitar “fantasmas da sua infância” só pode se tratar de Tarzan, também conhecido como Lorde Greystoke. Seu tipo físico e a encharpe de pele de tigre denunciam isso.

ENCAPUZADO = O ARANHA Muita gente pode pensar em se tratar do Sombra, mas o escorpião bordado no sobretudo aponta se tratar do Aranha, uma das melhores imitações do Sombra dos anos 30, e seu maior rival de vendas.

EDISON = TOM SWIFT Um inventor com esse nome, nos faz pensar em Thomas Edison, mas na verdade trata-se do jovem cientista Tom Swift, protagonista de uma série de livros infanto-juvenis que vão do começo do século XX aos anos 90.

HARK = FU MANCHU Cabelos, bigode e unhas não deixam mentir: Hark é Fu Manchu, que de inimigo da civilização ocidental, aqui aparece como um dos “mocinhos”.

JIMMY = OPERADOR Nº 5
James Christopher é o nome do agente secreto da série “Operator number 5”, um popular pulp magazine dos anos 30.

AVIADOR = G-8

Pulp Magazines com histórias de pilotos aventureiros eram populares durante os anos 30. Em Planetary # 05 ficou mais claro em se tratar que esse piloto que aparece nessa história do Planetary é uma homenagem ao herói da revista “G-8”.

Pois bem, os grandes heróis das pulp magazines se reuniram e montaram uma “sociedade secreta”, que tinha base no interior das Montanhas Adirondacks, nos Estados Unidos. A sua ultima ação conjunta foi desenvolver um computador quântico para tentar salvar o mundo da grande guerra que acontecia na época (1945).

Eles não se envolveram na Guerra com medo das conseqüências de suas ações, pois se julgavam seres de grande poder, e poderiam mudar a face do planeta. Mas que direito tinham de determinar sozinhos como seria o Planeta perfeito? O computador iria simular universos paralelos, até criar a Terra Perfeita, mas algo deu errado, porque esses universos ficcionais realmente existiram numa realidade matemática, e um deles se recusou a morrer, quando seus superseres tentaram invadir nosso mundo para preservar o seu.




Os mais atentos vão notar que esses sete superseres de outra dimensão se parecem com os clássicos super-heróis da DC Comics: Superman, Batman, Mulher-Maravilha, Flash, Lanterna Verde, Aquaman e Caçador de Marte. Ou seja, a Liga da Justiça da América.

A ironia está que, na vida real, foi realmente o aparecimento dos super-heróis (liderados pelo Superman, em 1938) que precipitou o fim da popularidade dos heróis das pulp magazines. Ou seja, no mundo real, a Liga da Justiça realmente levou a melhor!

Mas nesse gibi do Planetary, a sociedade secreta de Doc Savage, digo, Axel Brass, conseguiu vencer e expulsar os invasores.


REFERÊNCIAS

As Pulp Magazines

Sombra, Zorro e Conan foram personagens que surgiram nas pulp magazines.


Eles vieram antes das revistas em quadrinhos, antes das matines de cinema e antes dos programas aventureiros de rádio; A literatura popular norte-americana era a grande forma de entretenimento na década de 20 e 30. Por apenas 5 centavos de dólar, um mundo de imaginação e aventura se abria para milhões de leitores.

Foi nas páginas das revistas pulps que apareceram personagens como Tarzan, Zorro, O Sombra, Fu Manchu, Buck Rogers, Conan, entre muitos outros. Ao contrário de muitos heróis da literatura cuja presença se limitava a um romance ou dois, esses personagens primeiramente apareciam numa simples novela, para depois, caso houvesse uma grande popularidade, estreassem uma série de novas histórias, incluindo revistas próprias!

A demanda era crescente e para suprir o mercado não bastava um escritor por personagem. Afinal, eles eram em geral propriedade das editoras que compravam suas primeiras histórias (se apropriando assim de todos os caracteres ali surgidos), e eles podiam dispor deles como queriam, a despeito ou não da opinião do autor. Mas para dar uma ilusão de “unidade artística”, se usava um pseudônimo geral para cada série, ou seja, muitos escritores anônimos assinavam como a mesma pessoa, tudo para o publico pensar que seu autor preferido continuava a frente de determinada série.

Com o surgimento da rádio, do cinema e das histórias em quadrinhos, muitos foram os personagens de pulps que também fizeram histórias em outras mídias. A começar pelo próprio Tarzan, muito conhecido, mas realmente “muito pouco lido” no seu formato original, a literatura.

Buck Rogers ficou mais famoso nas tiras em quadrinhos do que nas pulps propriamente ditas; Os filmes do Zorro viraram febre tanto no cinema quanto seu programa na TV (produzido pelo Disney); O programa de rádio do Sombra marcou época; Conan só seria popular de fato cinqüenta anos depois, graças aos quadrinhos (e dois filmes com Arnold Swarzenegger); os exemplos são inúmeros, mas não há dúvida que muito da industria cultural e de entretenimento de massa deve muito à essas revistas baratas, ou pulp fiction, como é chamado o gênero nos Estados Unidos.


DOC SAVAGE

Apesar de mundialmente não ser tão popular quanto Tarzan, Zorro ou mesmo O Sombra, a revista de Doc Savage foi um dos pulps mais vendidas na sua época. A questão é que ao contrário dos seus contemporâneos, o personagem não teve sorte nas outras mídias, fossem adaptações pro cinema, histórias em quadrinhos ou rádio.

Mas na sua forma original, as histórias de Doc Savage eram imbatíveis. Em grande parte porque ao contrário de muitas outras séries, eram praticamente escritas por um só autor, Lester Dent, com ocasional ajuda de Will Murray, usando ambos o pseudônimo de “Keneth Robson”. Tal produção é extraordinária, já que Doc Savage teve ao todo 181 edições publicadas entre março de 1933 e junho de 1949.

Doc Savage era fruto de eugenia, na verdade, um experimento de uma sociedade secreta, em busca do ser humano perfeito. Além disso, foi criado desde o nascimento para “lutar contra o mal”, por isso se tornou especialista em uma série de habilidades: mestre em artes marciais, com pleno domínio do corpo e da mente, podendo exercer poderes mentais, como telepatia e hipnose, além de ser mais forte e resistente que um ser humano comum. Cientista, aventureiro, inventor, explorador, investigador, músico, Doc é um “homem renascentista”.

Uma vez que Planetary # 5 se concentra ainda mais na figura de Axel Brass / Doc Savage, vamos deixar para tal momento uma matéria exclusiva sobre o personagem. Por enquanto, basta saber o seguinte: Doc Savage foi um grande ídolo na década de 30, o personagem preferido de Jerry Siegel e Joe Shuster, os criadores do Superman, por exemplo. Talvez se não fosse por Doc Savage não existisse Superman, pois foram aquelas revistas que despertaram a imaginação de dois jovens que iriam criar todo um gênero nos quadrinhos (os super-heróis). Não é a toa que o nome do Superman é Clark Kent. Afinal, o nome de Doc Savage na realidade é Clark Savage Jr. E Kent é uma corruptela clara de “Dent”. Mas a coisa não para por aí: Doc Savage também tinha um refugio no Ártico, chamado Fortaleza da Solidão!


TARZAN

Antes de começar a escrever, Edgar Rice Burroughs já tinha tentado de tudo na vida, de inventor a vendedor, sem conseguir fama, fortuna, sequer uma casa própria. Foi quando vendeu um conto para uma pulp magazine. Assim, surgiu a novela “Tarzan dos Macacos” em 1912, com sucesso imediato. Logo foi encadernada sob a forma de livro, desencadeando outro fenômeno de vendas. A essa, se seguiram vinte e nove continuações.

Tarzan é filho de aristocratas ingleses, porém foi criado por macacos “mangani” na África, após a morte dos seus pais, ainda criança. Quando a gorila que o adotou é morta pelo chefe do bando, o mesmo macaco que matou os seus pais, Tarzan se vinga, e com isso se torna “rei dos macacos”. Além de destreza, resistência e forças incomuns, Tarzan também tem habilidade de se comunicar e até comandar a maioria dos animais.

Após ter salvo uma expedição cientifica norte-americana na África, Tarzan é alfabetizado pelo professor Porter, e se apaixona por Jane, sua sobrinha. No entanto, ela está noiva de William Clayton, que logo descobre ser seu primo verdadeiro. O nome real de Tarzan é John Clayton III, herdeiro do titulo de Lorde Graystoke. Apesar de num primeiro momento renunciar ao titulo e a fortuna, mais tarde ele os aceita.

Tarzan foi muito cedo descoberto pelo cinema, tendo estrelado até mesmo um filme mudo, em 1919. Mas foi a partir da série de filmes estrelados por Johnny Weismuller, a partir de 1932, que o homem-macaco ganharia o mundo. A partir de 1929 suas histórias foram adaptadas para as tiras de quadrinhos nos jornais, com grande sucesso, por Hal Foster e mas tarde, Burne Hoggart, dois dos maiores desenhistas de quadrinhos da sua época.

Como Planetary # 17 trata exclusivamente da lenda de Tarzan, vamos deixar para este momento uma matéria exclusiva sobre o Rei dos Macacos. Aguardem e confiem.


FU MANCHU

Apesar dos personagens principais das novelas de Sax Rohmer serem Sir Nayland Smith e Mister Petrie (que é o narrador das histórias, aliás), não é a toa que Fu Manchu seja muito mais conhecido do que seus antagonistas. A começar pelo título da primeira novela em que apareceu “O insidioso Doutor Fu Manchu”, publicada pela primeira vez em 1912. O sucesso foi tal que Rohmer, ao invés de simplesmente escrever novas histórias dos agentes britânicos, preferiu “ressuscitar” Fu Manchu (que teria escapado da morte no último segundo) e assim usar sempre seu nome nas demais novelas que escreveu.

Com efeito, Fu Manchu foi umas das primeiras séries onde o vilão ocupava um lugar de primeira grandeza, porque era de longe bem mais interessante que os heróis que o combatiam. Nayland Smith era uma mistura de Sherlock Holmes com Alain Quartemain, mais pela energia, não pelo talento dedutivo, que tinha muito pouco, aliás. Mister Pietri sim fazia às vezes do Dr. Watson, narrando as histórias onde seu parceiro corria os maiores riscos.

Já Fu Manchu era um gênio do crime que havia fugido da China após a Revolta dos Boxers, estando do lado derrotado. Agora, tinha como objetivo destruir a civilização ocidental, principalmente o Império Inglês, que havia dominado e explorado a China. Fu Manchu também era um cientista e especialista em venenos, além de ter criado um certo “Elixir Vitae” que lhe dava imortalidade e perpetuou a sua vida por décadas. Ele desdenhava de armas e explosivos, e preferia seus mortíferos assassinos que usavam artes marciais, espadas, facas e venenos como principais armas. Além de seus perigosos e raros animais peçonhentos, toda uma variedade de escorpiões, aranhas e serpentes.

Mas foi graças ao cinema que Fu Manchu deve muito da sua popularidade: primeiro na Inglaterra, depois nos Estados Unidos, podemos contar os filmes estrelando Fu Manchu em mais de duas dezenas! Destaca-se principalmente a série de cinema em quinze episódios “Drums of Manchu”, considerada uma das melhores produções do gênero na década de 40. Outra encarnação muito famosa é “A máscara de Fu Manchu”, onde Boris Karloff deu vida ao terrível vilão.

Outro grande Fu Manchu, e o preferido de muitos, é Christopher Lee, que fez uma série de filmes interpretando o vilão na década de 60. A última aparição de Manchu no cinema foi na pele de Peter Sellers, em 1980, onde o ator também interpretou Sir Nayland Smith!

Nos quadrinhos, Fu Manchu é mais conhecido aqui no Brasil por sua participação chave na série “Mestre do Kung Fu”, onde fazia o pai e maior inimigo do herói, Shang Shi, que eventualmente se torna agente do MI-6 e aliado de um envelhecido Sir Nayland Smith. No entanto, nos anos 80 a Marvel Comics perdeu os direitos de utilizar o nome do personagem Fu Manchu, e desde então têm-se evitado referencias diretas à ele. Na sua ultima aparição, ele foi chamado simplesmente de “Han”, embora mantenha grande parte do visual “Fu Manchu”.

Mas muito antes disso, Fu Manchu já estrelara suas próprias histórias em quadrinhos. Primeiro em tiras publicadas nos jornais ingleses adaptando diretamente as novelas originais escritas por Sax Rohmer. Depois, nos Estados Unidos, na Detective Comics (sim, a revista onde surgiu o Batman!) marcou presença da edição 17 ao número 28, até ser destronado pelo Homem-Morcego como carro-chefe da revista.

Allan Moore fez dele um dos principais vilões da primeira mini-série da bem-sucedida “Liga Extraordinária”. No entanto, por questões de direitos autorais, Fu Manchu foi ali chamado de “O Doutor”, assim como neste gibi de Planetary, nós o conhecemos como “Hark”.

Muitos críticos combatem as obras contendo Fu Manchu, uma vez que Sax Rohmer foi acusado inúmeras vezes de ser racista e xenófobo, e seu personagem Nayland Smith seria a expressão da opinião do autor sobre as culturas estrangeiras. No início do século XX, o ocidente tinha total estranheza e pavor pela civilização oriental, especialmente a chinesa, tal tem hoje com o mundo islâmico.

Esse tipo de medo e preconceito com os chineses e povos orientais, acabaria sendo retratado no uso de vilões terríveis como Fu Manchu, que gerou uma série de outros vilões inspirados nele, dos quais podemos citar: Doutor No (inimigo de James Bond); Garra Amarela (inimigo de Nick Fury); Ming, o Impiedoso (inimigo de Flash Gordon); Mandarim (inimigo do Homem de Ferro); e Ras Al Ghun (inimigo do Batman).


O ARANHA

Um milionário mascarado que faz justiça com as próprias mãos, matando violentamente os criminosos. Essa poderia ser muito bem a descrição do Sombra, o mais famoso dos vigilantes das pulp magazines, dos anos 30. E tal sucesso tentou ser repetido por inúmeras outras editoras, que lançaram uma série de imitações do personagem, tentando o mesmo sucesso.

A mais digna dessas imitações foi “O Aranha”, personagem criado por Harry Steager, e publicado entre 1933 e 43, nos Estados Unidos. A razão pelas quais O Aranha se destaca das demais imitações do Sombra é principalmente devido a grande qualidade dos seus textos, em muitas vezes, com histórias superiores ao próprio Sombra.

A identidade secreta do Aranha é do socialite e detetive amador Richard Wentworth, que era um veterano da 1ª Guerra Mundial. Além da máscara e do capuz, ele também usava um anel com uma aranha estilizada, que deixava uma marca nas suas vítimas. Suas armas preferidas eram duas 45 automáticas, mas também usava uma silenciosa arma de ar comprimido quando queria ser discreto, além de trazer um punhal nas suas botas.

Como matava criminosos a sangue frio, o Aranha era obviamente caçado pela polícia, no caso, seu melhor amigo, o Comissário Stanley Kirkpatrick, que embora privadamente apoiasse as ações do Aranha, oficialmente o caçava, e desconfiava inclusive que Wentworth fosse o Aranha. Sim, qualquer semelhança com o Batman não pode ser mera coincidência...

O Aranha num dos seus filmes nos anos 40. Estiloso, não?


O Aranha teve também duas séries para o cinema nos anos 40, com quinze episódios cada. Nos quadrinhos, ganhou uma mini-série nos anos 90, escrita e desenhada por Timothy Truman, publicada pela Dark Horse Comics. No entanto, a maior contribuição do Aranha para os quadrinhos está no fato de se um dos personagens preferidos dos pulps de STAN LEE, que revelou ser ele uma das inspirações para a criação do Homem-Aranha. Embora a única coisa que os dois personagens partilhem em comum seja o nome, Stan revelou que por ser fã do “The Spider”, ele a muito tempo pensava num super-herói que se chamasse “Spider-Man”.


TOM SWIFT

Tom Swift era o jovem protagonista de uma série de livros infanto-juvenis que começaram a ser publicados na primeira década do século XX e ganhou continuas novas séries, até os anos 90. Seu criador é apontado por alguns como Howard Garris, embora muitos outros tenham escrito, todos sob o pseudônimo de “Victor Appleton”. O jovem Tom Swift era um inventor e aventureiro, que viajava pela América (e depois pelo mundo) inventando coisas, salvando pessoas e arranjando encrenca, não necessariamente nesta ordem.

Na verdade, há dois Tom Swifts: o Tom Swift original, e depois seu filho, Tom Swift Jr, também cientista. O Tom Swift original foi publicado entre 1910 e 1941. Suas invenções eram um pouco mais realistas, e embora fosse um material originalmente para o publico infanto-juvenil, suas histórias eram mais maduras do que seriam as de seu filho.

Já Tom Swift Jr teria grande popularidade a partir da década de 50, numa série de livros infantis, mostrando as aventuras de um “menino cientista”. Essa mesma série de livros foi relançada nos anos 90, com novas aventuras.


OPERATOR NO. 5

Operator No. 5 era um herói que apareceu em sua própria pulp magazine, Secret Service Operator # 5, publicada entre 1934 e 1939. Diversos autores escreveram suas histórias, todos sob a alcunha de “Curtis Steele”. Provavelmente o personagem foi criado por Frederick Daves, que escreveu as 20 primeiras edições.

O protagonista das histórias eram o agente secreto James Christopher, também chamado “operativo número 5”. Poderíamos dizer que ele foi o precursor de James Bond, Napoleon Solo, Flint, e vários outros espiões que surgiriam mais tarde. Em geral, Christopher lutava contra estrangeiros inimigos dos Estados Unidos, que planejavam entrar em guerra pelos mais variados motivos.

Na verdade, o que mais chama a atenção sobre a série, era seu aspecto “seriado”. Na época, a maioria absoluta das aventuras dos heróis pulp eram auto-contidas, não tinham lá muita conseqüência umas com as outras. Mas não Operator 5. Era tudo em seqüência, como muitos seriados de TV hoje em dia, mas uma grande novidade para a época.

Uma das sagas mais emblemáticas durou 13 edições: “A invasão púrpura” mostravam um império de origem germânica (numa alegoria a Alemanha) conquistando os Estados Unidos, e Jimmy Christopher sendo líder dos rebeldes contra o Imperador Maximiliam I.


G-8

G-8 and his battle aces era uma das revistas mais vendidas da Popular Publications. Ao contrário de muitas outras séries, foi escrita única e exclusivamente por um único individuo que assinava seu próprio nome: Robert J. Hogan, ele mesmo um ex-piloto da força aérea norte-americana. A publicação teve 110 números, entre outubro de 1933 e junho de 1944.

Mas embora o personagem principal fosse um aviador – cujo verdadeiro nome jamais foi revelado, aliás – as histórias estavam longe de se aterem a combates aéreos e dramas de guerra. Pelo contrário, assim como Doc Savage, G-8 era um mestre dos disfarces, era um espião do nível do Operativo 5, e combatia vampiros, lobisomens, zumbis, cientistas loucos, raios da morte, robôs e outros inventos científicos.

O sucesso foi tal que é claro apareceram uma dezena de imitadores. Como é muito difícil encontrar uma história original de G-8 pra ler, fica a dica: Quem assistiu ao filme “Capitão Sky e o Mundo do Amanhã” pode ter exatamente uma idéia de qual era o clima das histórias de G-8.

9 comentários:

walter stodieck disse...

Nano, muuuuuuito bom este seu blog com informações sobre o Planetary, mas tente fazer os posts um pouco menor, hehehehehe

Abração!

Amalio Damas disse...

Parabéns Nano! Excelentes textos, bem aprofundados, com explicações que nos remetem inclusive a refletir que os Pulps foram os catalisadores de muitas das fórmulas de entretenimento que conhecemos hoje. Acho que o dia que a Pixel terminar de publicar Planetary, você poderia procurá-los com o material que produziu e produzirá e propor a publicação do Guia Planetary.

JCFerranti disse...

Cara, Muito bom.

Planetary é muito bom e seu blog, com as devidas referencias, tá ainda melhor. Principalmente as matérias sobre os personagens.

Agora, só um detalhe: A echarpe do Lord Inglês é de leopardo e não tigre. São pintas. Além disso, não existem tigres na Africa.

Anônimo disse...

Touchè, Jcferranti. Ainda bem que você observou isso. Como é que eu deixei escapar uma coisa dessas se eu sabia que não tinha tigres na África? Simplesmente não me toquei! Além do mais, tigres tem listras, leopardos tem manchas. Sinal que eu preciso ser mais minucioso e cuidadoso quando escrevo as coisas. Muito obrigado pelo toque e valeu por acompanhar o blog.

André Figueiredo disse...

Uma observação: a morte do "Flash", na primeira história, não seria uma referência a Crise nas Infinitas Terras?

Parabéns pelo blog!

Anônimo disse...

Sim, andré, a maneria como "edison" mata o "flash" com sua pistola de raios, e o personagem se desintegrando, lembra a sequencia da morte do Flash em Crise. Eu tinha reparado nisso, mas na hora de escrever, esqueci completamente de mencionar.

O grande barato de Planetary é justamente esse: há tantas sutilezas em cada história, que cada nova leitura é uma descoberta de novas informações. Acredito que não exista gibi tão bom de RELER quanto Planetary...

Anônimo disse...

O blog está de parabéns! Sou fã do Planetary e agora leitor deste interessante espaço dedicado a série, com textos inteligentes e bem construídos!

Gostaria de fazer uma observação ingênua, que certamente não vai diminuir a intensidade de seu trabalho:

"vilões inspirados nele, dos quais podemos citar: Doutor No (inimigo de James Bond); Garra Amarela (inimigo de Nick Fury); Ming, o Impiedoso (inimigo de Flash Gordon); Mandarim (inimigo do Homem de Ferro); e Ras Al Ghun (inimigo do Batman)."

O Ras Al Ghun, muito embora seja um típico personagem inspirado claramente em Fu Manchu, seria na verdade turco e não chinês. O vilão chinês de Batman seria o Dr. Tzin-Tzin, um mestre da hipinose.

Abraço,

Anônimo disse...

Ainda sobre o comentário do André, destaco a idéia de que o primeiro encontro entre Liga da Justiça e Sociedade da Justiça, que deu origem a todas crisis envolvendo terras paralelas na DC, ocorreu com o auxílio de uma bola de cristal. Objeto este, que guarda alguma semelhança com o computador quântico, de formato circular e usado para 'prever' (ou melhor: projetar) um futuro melhor.

Gugelmin disse...

Show o seu blog brother. Escutei o Podcast no UniversoHq e vim procurar mais referemcias e cheguei aqui. Obrigado!